Comeram minha namorada Carlinha

Conheci Carlinha no cursinho pré-vestibular em 2005. Eu iria tentar medicina pela primeira vez e estava me mudando para um colégio com maior aprovação no vestibular. Ela iria tentar enfermagem e já estudava ali desde o início do ensino médio. Já no primeiro dia de aula aquela loirinha linda me chamou atenção. Dezesseis para dezessete anos, pele branquinha, cabelos loiros lisinhos, olhos azuis muito claros, mais para baixinha, mas com um corpo espetacular, cinturinha fina, quadril mais largo, bundinha arrebitada, peitos na medida… Era definitivamente a garota mais bonita e mais gostosa do colégio. E também uma das garotas mais bonitas que eu já havia visto em toda a minha vida. Não tinha como ficar indiferente àquela beleza toda. Estudávamos na mesma sala e ficava claro que todos olhavam pra ela quando ela entrava. Eu me sentava lá no fundo, ela mais na frente, e era difícil focar na aula tendo aquela deusa no meu campo visual.
Logo nas primeiras semanas fiz amizade com alguns caras que já estudavam ali e fiquei sabendo de uns boatos sobre Carlinha. Diziam que além de linda ela era safadinha, que ela tinha arrumado uma confusão danada em um churrasco no ano anterior. Ela namorava e estava com o namorado no churrasco, mas acabou se engraçando com outro sujeito e formou-se um circo: pancadaria, choradeira, ameaça com faca… Um drama!
Bom, se ela fosse safadinha, melhor ainda, mais fácil para que eu me desse bem com ela também. Tentei me aproximar dela, mas os intervalos eram curtos e mal dava tempo pra estabelecer uma conversa. De qualquer forma eu trocava algumas palavras com ela e a adicionei no Orkut. Fui me aproximando aos poucos sem conseguir muita intimidade, mas sentia nela alguma simpatia por mim.
Lá pelo segundo mês de aula ajudei o pessoal da sala a organizar um churrasco com a intenção de que neste churrasco fosse eu o felizardo a pegar a Carlinha. E num sábado em que fazia um calorão, aquela garota linda estava ainda mais linda e era o centro das atenções no churrasco. Difícil se aproximar de uma garota tão disputada, mas consegui e acabamos ficando. Eu estava com dezoito anos, tinha acabado de tirar carteira e estava com um carro novinho emprestado do meu pai. Dei uma carona pra ela no final do churrasco e a beijei em frente a casa dela. Ela não só era linda como era cheirosa, gostosa, beijava bem, e tinha mesmo um jeitinho de safadinha… Fiquei completamente apaixonado depois daquele dia. Apaixonado e tarado! Mas não foi possível chegar às vias de fato naquele momento, e só ficávamos às vezes nos finais de semana. Ela dizia que não queria namorar, que era melhor deixar daquele jeito por enquanto. E assim foi, ficávamos juntos alguns finais de semana, e em outros saímos separados, até que fiquei sabendo que ela tinha ficado com um cara de outra sala em uma festa e fiquei com um ciúme desgraçado… E ali a cretina começou a mostrar quem era, já que jurou de pés juntos que não tinha ficado com ele quando na verdade eu tinha 100% de certeza que ela tinha dado uns pegas com cara. Discuti com ela, tivemos uma briga de namorados, sem nem ser namorados, e acabamos fazendo as pazes numa sexta depois da aula na minha casa. Meus pais tinham viajado e aquele foi, sem dúvida, um dos melhores momentos da minha vida. Transamos pela primeira vez. E também pela segunda, terceira, quarta… Eu não conseguia parar, estava louco de tesão. Dava uma, descansava um pouco, olhava aquela garota linda e gostosa do meu lado e já queria outra. E como ela também queria, fomos assim até de madrugada.
Como dizem, “amor de pica, quando bate, fica”, e me declarei apaixonado, disse que não queria mais, só ficar com ela, que queria ela só pra mim, que queria que ela fosse minha namorada. Ela aceitou, acho que estávamos mesmo em sintonia naquele momento, foi uma coisa legal. Começamos a namorar no dia 4 de junho de 2005. E durante um tempo foi só alegria. Até o começo de 2006 nos entendemos muito bem, apesar de acontecerem coisas que me acendiam um sinal de alerta pra vagabunda. Coisas pequenas, mas que incomodavam. Por exemplo? Estávamos no motel e eu coloco no canal pornô, ela olha o pau do cara que tá na tela e fala meio sem querer, como se pensasse alto: “que peru bonito!”. Mais uma? Estávamos no estacionamento de um restaurante, um cidadão estava mijando atrás de um carro, ela fica olhando e ainda comenta comigo “ai, amor, vi o pau dele!”. Isso sem contar as companhias, quase todas vagabundinhas famosas do colégio.
Em fevereiro de 2006 as coisas começaram a mudar. Ela foi aprovada no vestibular de enfermagem, ao passo que eu fui reprovado no vestibular de medicina. Estávamos em momentos distintos agora: ela com a alegria típica de uma caloura e eu amargurado com a reprovação; ela comemorando um mundo de novidades e eu aturando os mesmos assuntos mais uma vez no cursinho. Para piorar, o cara que ela tinha ficado enquanto estávamos ficando tinha sido aprovado na medicina que eu tanto desejava, o que só aumentava a minha sensação de derrota.
Discutimos já nas primeiras semanas de aula, com ela querendo ir sozinha às festas de início da faculdade. E daí pra frente nosso namoro entrou numa curva descendente. Eram freqüentes as brigas por causa das festas da faculdade e eu não sei porque, ela não terminou comigo naquela época, já que parecia que nosso namoro seguia em frente apenas por minha insistência. Eu mesmo pensei em terminar, mas eu estava enfeitiçado por ela e jamais conseguiria tomar a iniciativa. No aniversario dela em maio, sua mãe fez uma festinha para comemorar os dezoito anos da filha. Eu estava lá, junto com suas amigas vagabundinhas, e lá pelas tantas, depois de estar todo mundo meio chapado de cerveja, ouço uma conversa dela com as amigas, no maior clima de clube da Luluzinha. Diziam que dezoito anos merecia uma comemoração especial, que elas deviam ir pra algum clube de mulheres, e a própria Carlinha sugeriu uma festinha particular com uns caras da medicina. Quebrei o pau com ela naquela noite, xinguei, fiz uma cena. Fui embora pra casa puto e não atendi as ligações dela no celular. E no dia seguinte ela me procurou pedindo desculpas, que estava bêbada brincando com as amigas, nada demais. Difícil resistir àquele rostinho tão lindo e aceitei as desculpas.
Seguimos assim entre altos e baixos até que em outubro de 2006 por pouco não terminamos de vez. Ela queria ir a uma festa a fantasia, mas eu não poderia, estaria fazendo simulado, teria prova o final de semana todo. Brigamos mais uma vez, mas ela me prometeu que não iria a tal festa. Promessa não cumprida. No sábado à noite, depois de me ligar mais cedo dizendo que iria dormir, ela não atendia mais as minhas ligações. Poderia estar dormindo, mas eu sabia que não estava… Fui pra tal festa e a encontro, fantasiada de coelhinha, junto a uma amiga também fantasiada de coelhinha, numa conversa animadíssima com dois caras, sendo que um deles, fantasiado de pirata, não me era estranho. Sim, era o mesmo cara lá do cursinho, o que ela tinha ficado, e que agora estava fazendo medicina. Mais uma cena, dessa vez com gente separando briga, gritaria, uma confusão dos diabos. No domingo, novas desculpas, e o namoro continuou.
Durante a semana eu estava arrasado, e eu sempre conversava com uma garota da minha sala no cursinho que namorava um cara que fazia odonto na federal também. Ela sabia da minha situação com Carlinha, às vezes me aconselhava, falava que era melhor eu terminar, e um dia, depois de muito hesitar, contou que tinha ouvido do namorado uma historia sobre a Carlinha. Diziam que ela tinha sido pega no maior amasso com um cara do terceiro período de medicina dentro do banheiro da faculdade! Mais arrasado ainda, fui pra casa da Carlinha pra passar aquela história a limpo. Ela negou, claro! Disse que se ela quisesse ficar com alguém terminaria comigo primeiro, mas que ela não queria. O que tinha acontecido e que poderia ter dado origem ao boato foi que um cara tentou chegar nela dentro do banheiro sim, mas que ela de jeito nenhum tinha ficado com o cara. Que não tinha me contado porque não queria confusão, porque se fosse me contar de todos que chegavam nela iria ter confusão todo dia.
O amor é cego, e o Mané aqui, apaixonado, acreditou, mas descobriu quem era o cara (não, dessa vez não era o mesmo cara lá do cursinho) e foi lá na faculdade tirar satisfação. Mais um barraco, com quase a sala inteira do cara envolvida na situação tentando botar panos quentes. Carlinha me segurando de um lado, e a turma do cara segurando ele do outro, mas dizendo que eu devia tomar conta da minha namorada.
Saí dali completamente desmoralizado, a coisa tava tomando uma proporção grande, meus desentendimentos com Carlinha já estavam famosos no nosso meio. Abre parêntese: não quero aqui revelar a minha identidade, apesar de que qualquer pessoa envolvida nessa história facilmente se identificará. Mas eu me mudei de cidade depois do ocorrido, como vou relatar um pouco mais na frente, e no meu atual círculo de amizades ninguém sabe pelo que passei. Minha cidade era uma cidade de médio porte da região sudeste com uma única faculdade pública, de forma que o que rolava na faculdade e nos cursinhos rapidamente se espalhava entre os estudantes. E Carlinha não se chama Carlinha. Fecha parêntese. Meus amigos sempre me aconselhavam a cair fora, nenhum deles gostava de Carlinha. Eu já tinha arrumado um bocado de inimizades por causa dela, tinha me tornado até um pouco retraído. Mas ficava no máximo uma semana afastado dela. A saudade apertava, ela correspondia, e a gente voltava.
Em fevereiro de 2007 finalmente uma boa notícia: eu tinha passado entre os primeiros colocados na medicina! Foi um alívio, agora eu também estaria na faculdade. Engraçado que Carlinha naquele momento até pareceu me respeitar mais, como se namorar um, agora estudante de medicina, desse algum status a ela. Ficou toda atenciosa e diminuímos as brigas. Mas as brigas do ano anterior já tinham me deixado com várias inimizades na universidade, de forma que nas duas primeiras semanas eu não fui à aula para evitar um trote inconveniente de algum desafeto veterano. E tendo faltado as duas primeiras semanas não participei das confraternizações dos calouros, iniciando o curso um pouco isolado, sem muitas amizades. Tinha amigos em outros cursos e um amigo na medicina mas bem mais adiantado.
Na primeira chopada para os calouros eu não fui. E na segunda, mesmo sem ter nenhum amigo ainda na minha sala, resolvi ir por insistência da Carlinha. Ela dizia que eu devia me enturmar mais, e que agora poderíamos curtir as festas da faculdade juntos. Dei ouvidos a ela e no sábado à noite chegávamos a uma verdadeira mansão com muita gente bebendo, num ambiente digno daquelas festas de faculdade de filmes americanos.
Fiquei um pouco incomodado no início, tinha muita gente ali da turma do cara da história do banheiro, além do próprio e do cara lá do cursinho também. Mas eu fui bebendo e ficando mais a vontade. Sentia-me no direito de estar ali. Tinha sido aprovado em um vestibular difícil, entre os primeiros lugares, e merecia agora participar daquela festa. Carlinha também estava bebendo e ficando mais animada, era a primeira vez que ela ia numa festa da medicina, que normalmente eram fechadas, eram somente para o pessoal do curso e agregados. E eu me sentia orgulhoso ao lado dela. Ela era a mulher mais gostosa da festa. Lembro-me, até hoje do que ela usava, um vestido cinza e curto, com um salto vermelho. Estava linda!
No entanto, alguns caras já conheciam Carlinha e foram se aproximando, puxando papo comigo, e logo estávamos naquela confraternização que só o álcool proporciona. Fomos bebendo muito, eu e Carlinha, e eu já não guardava mágoa de ninguém ali mais. Pra mim tudo era festa, e deixei Carlinha por um momento para ir ao banheiro. No caminho começo a conversar com dois veteranos, e quando menos espero alguém coloca um saco na minha cabeça, os dois que conversavam comigo me seguram e me jogam dentro de um quartinho que ficava ao lado do banheiro. Tentei abrir a porta, mas estava trancada por fora. Gritei, mas com a música alta ninguém escutava. Bati na porta, tentei arrombar, mas não conseguia. Eu estava bem bêbado e meio sem noção do tempo que já estava preso ali. Tentei ligar pro celular da Carlinha, mas ela não me atendia. No desespero cheguei a ligar até para a polícia, que não levou muito a sério a minha ligação e disse que no momento não tinham viatura disponível. Pensei em ligar para algum amigo, mas fiquei envergonhado da situação em que me encontrava e desisti. Esmurrei e chutei a porta freneticamente, e depois de não sei quanto tempo, já cansado, suado de tanto tentar arrombar a porta, uma garota abriu a porta. Algumas pessoas me olhavam e riam, e a garota que abriu a porta tentou me consolar e falou pra eu esquecer aquilo, que era melhor eu ir embora e esfriar a cabeça. Saí dali com a cabeça a mil, não sabia se procurava Carlinha ou os dois que me jogaram no quartinho. Fui tentar subir as escadas para o segundo andar da casa e, um cara e uma garota, tentaram me dissuadir com uma conversa mansa, que era melhor eu ir embora, a garota foi até gentil, tomando as minhas dores, dizendo que era sacanagem o que tinham feito… E nem sinal de Carlinha até ali. Mas subi as escadas assim mesmo, procurando minha namorada pelos quartos.
Na porta de um dos quartos uma garota quando me viu fez uma expressão de surpresa, riu e saiu de fininho. Outra garota também estava passando e parou junto comigo em frente à porta do quarto. Na cama Carlinha estava deitada de bruços, com o vestido levantado e sem calcinha. Uma camisinha jogada no chão. E a garota que chegou na porta junto comigo, me olhou, olhou pra Carlinha, e falou o que eu estava pensando:
– Cara, comeram a sua namorada!
Eu fiquei descontrolado, tentei acordar Carlinha que parecia estar em coma alcoólico e ela levantou com dificuldade, não parecia saber nem aonde estava. Estava com algo no rosto e nos cabelos, parecia porra seca. Tinham gozado na cara dela. A garota que tinha sido legal comigo na escada chegou logo com mais outras duas e tentaram acalmar a situação. Saí dali como um louco atrás dos dois caras, que tinham me trancado no quartinho e fui enfrentando quem encontrei pelo caminho. Esbarrei com o cara da historia lá do cursinho, parti pra cima dele, separaram, e ele me chamando de maluco, acho que nem sabia o que tava acontecendo. E não vi mais os dois caras, nem o cara do lance do banheiro. Voltei pro quarto e Carlinha era amparada pelas garotas. Ela mal estava acordada, e dizia que não sabia como tinha ido parar ali no quarto e nem o que tinha acontecido. Levei Carlinha pra casa e ainda voltei pra festa atrás dos caras com uns amigos, eu nunca tinha sentido tanta raiva na minha vida. Mas acabei não encontrando ninguém. CONTINUA

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