Anne & Melissa – 006 – É Uma Tempestade No Oceano

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As questões em minha mente, comigo despertando depois de um longo dia de aula, num instante pareciam o fim do mundo, e no próximo, observando Melissa, dormindo, ao meu lado, pareciam inexpressivas…

Ainda tenho onze anos, logo, não existem leis para minha idade, Mel não deveria se preocupar, se ela fosse acusada, além dela ter sete anos, no caso de alguma anomalia, eu levaria a culpa por ela, eu morreria por essa menina, eu mataria, muitas vezes mais, pelo meu amor…

A criança adormecia, nua, como eu, acima dos lençóis brancos de minha cama, sua respiração, calma, contida, elevava os pequenos seios lentamente num fluxo constante, adorável, os fios dourados do longo cabelo de Mel pareciam ouro sob o brilho do entardecer, era uma visão esplendorosa…

Nos lábios, em tom cereja, os dentinhos de Mel podiam ser notados, nas unhas, o esmalte em tom ciano carregava o vermelho daquele homem, parece que os banhos não são o suficiente para nos limpar daquelas vísceras imundas…

O sexo de Mel, delicado, estava quente, como suas coxas, que sonho minha pequena poderia estar tendo?

Sorri, lhe tocando intimamente com a mão esquerda, usando a direita para lhe tocar na face, os olhos turquesa se abriram, e vi um sorriso que há muito não encontrava naqueles lábios aromados em pureza…

O sentimento de ser infinita continuou em meu ser, com Mel se levantando, segurando minha face delicadamente, me tocando nos lábios, iniciando um beijo tenro, lento, apreciando cada movimento de nossas línguas, unidas, como se estivessem numa valsa harmoniosa ensaiada por anos…

Me afastei, o que é raro, não sou de negar carinho, e amo minha irmãzinha, mas, o objetivo era justo…

Fui para o banheiro da mamãe, que é o único com banheira, e comecei a encher a louça de água, Mel me seguiu é claro…

“Você é muito bonita Mel” falei, e Mel, sem expressão não me permitiu entender o que se passava em sua mente…

“Você pode falar comigo se quiser, mas, com os outros é bom que não fale, quero sua voz para mim, quero você toda para mim, sempre, para sempre” falei abraçando minha irmã, que retribuiu o abraço, em silêncio.

Voltei para o meu quarto, pegando o shampoo no banheiro, mamãe ficava brava quando nós usávamos o dela, então, com a banheira cheia, ajudei Melissa a entrar na água quente, que logo se tornou cheia de espuma, aliás, era o shampoo do Bob Esponja, o melhor que existe!

Pude relaxar um pouco, tentei não pensar nas vísceras, ou na polícia, que certamente estava fazendo um trabalho diferente dos filmes, estava sendo, em muito, eficiente, era questão de tempo, pouco tempo, até chegarem nessa casa, nesse banheiro, nessa banheira, dentro do shampoo do Bob Esponja, ri sozinha, não, tão perto eles não vão chegar…

Mel me viu rindo e jogou água para cima, brincando, ela era uma criança meiga, pura, sagrada, uma divindade perfeita, sim, perfeita…

Levantei, deixando pegadas molhadas por todo o corredor, alcancei o quarto de Mel, escolhi alguns brinquedos, que podiam molhar, e retornei para banheira.

Os olhos da minha irmãzinha brilharam, eram algumas bonecas, a Barbie confeiteira, a Barbie policial, e a Barbie noiva, junto de alguns Pokémons, o Bulbassauro, o Charmander, o Lapras, e o Articuno, ambos de plástico, com cores fortes…

Assisti ao casamento da Barbie noiva com o Articuno, e vi quando o Charmander, aparentemente o padre da cerimônia, ordenou o beijo, que terminou em baixo da água…

Conforme o casamento prosseguia os convidados saltavam alegres, o que empurrava mais, e mais água para fora da banheira, molhando o banheiro todo, por vezes o shampoo na água criava bolhas, que levitavam ao nosso redor, o vapor da água criava um ambiente aconchegante, fazendo Mel me olhar sonolenta…

Encostei na banheira, me soltando, afundando na água, os fios loiros de meu longo cabelo pareciam levitar, fiquei o máximo que conseguia, abri os olhos em baixo da água, eles lacrimejaram, e pude ver, as ondas criadas por Mel, e os brinquedos se movendo num redemoinho…

“É uma tempestade no oceano” disse Mel, e eu sorri pegando fôlego ao tirar o rosto da água.

Mostrei os braços para Mel, e minha maninha se aproximou, acabando com o redamoinho, fazendo os brinquedos deixarem a correnteza…

Abracei minha irmã, e fiquei parada por um tempo, apreciando o momento, com Mel me abraçando, inclinando o rosto, me olhando nos olhos, suas costas estavam no meu peitoral, seu hálito próximo de minha respiração…

Nesse instante a porta se abriu, e vimos nossa mãe olhando, incrédula, para o banheiro alagado “Alguém pode me explicar o que está acontecendo” eu ri, gargalhando, sem saber o que dizer, e a maior surpresa aconteceu na voz de Melissa “É uma tempestade no oceano” repetiu a menina de sete anos, como num sussurro.

Nossa mãe se aproximou, com lágrimas nos olhos, e nos abraçou na banheira, entendendo a voz de Mel como um avanço em sua condição, essa, sem alterações desde o incidente com nosso pai…

“Está tudo bem amor, pode brincar, quero que seja feliz, estou aqui por você, sempre vou estar, eu te amo querida, minha estrelinha” disse mamãe para Mel, que pareceu não lhe entender, olhando, novamente, sem expressão, para a água se movendo em lentas ondas…

“Vai ficar tudo bem mamãe” falei, com mamãe, virando o rosto, ela não queria que víssemos ela chorando, escutei, antes de voltar a ficar sozinha com Mel na banheira “Sim, agora tudo está tudo em ordem meu bem” essa fora uma voz chorosa.

Sozinhas novamente, olhei para Mel, e lhe roubei um beijo, leve, um segredo, eterno…

Continua…

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